Quase quatro anos após retomar o poder, o Talibã tem proporcionado o que investigadores da ONU descrevem como um "ambiente permissivo" para uma série de grupos terroristas, que representam uma séria ameaça à segurança da região.
Um relatório da Equipe de Apoio Analítico e Monitoramento de Sanções da ONU enviado ao Conselho de Segurança afirmou que o Talibã "continuou a manter um ambiente permissivo para uma série de grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda e suas afiliadas, representando uma séria ameaça à segurança da Ásia Central e de outros países".
ISIS-Khorasan: "A ameaça mais séria"
O relatório destacou a afiliada do Estado Islâmico no Afeganistão, ISIL-Khorasan, ou ISIS-K, como "a ameaça mais séria, tanto regional quanto internacionalmente". Estima-se que o grupo tenha cerca de 2.000 combatentes, espalhados pelas províncias do norte e nordeste.
Sob a liderança de Sanaullah Ghafari, o ISIS-K "continuou a recrutar dentro e fora do Afeganistão, inclusive entre os Estados da Ásia Central e o Cáucaso do Norte russo, bem como combatentes descontentes de outros grupos", afirma o relatório. Os monitores alertaram que, em áreas próximas à fronteira com o Paquistão, o ISIS-K estava doutrinando crianças e havia "estabelecido um curso de treinamento para suicídio para menores de aproximadamente 14 anos".
Al-Qaeda e o Talibã Paquistanês
O relatório afirma que a Al-Qaeda continua presente no Afeganistão, composta principalmente por combatentes árabes que lutaram ao lado do Talibã no passado. Seus combatentes estão espalhados por seis províncias — Ghazni, Helmand, Kandahar, Kunar, Uruzgan e Zabul — e mantêm vários locais de treinamento, "provavelmente pequenos e rudimentares", alguns dos quais compartilhados com o Tehrik-i-Taliban Pakistan, ou TTP.
Embora enfraquecidas, as ambições da Al-Qaeda permanecem globais. De acordo com o relatório, o líder Sayf al-Adl encarregou agentes de "reativar células no Iraque, na República Árabe Síria, na Líbia e na Europa", refletindo sua intenção contínua de montar operações externas. Avalia-se que o TTP tinha cerca de 6.000 combatentes no Afeganistão e continuou a receber "apoio logístico e operacional substancial das autoridades de fato", afirmou o relatório. Observou-se que "o Talibã não restringiu as atividades do TTP e, em alguns casos, forneceu cooperação tática". Em janeiro de 2025, o TTP ofereceu treinamento a militantes no Baluchistão, ressaltando seu papel na instabilidade regional.
Combatentes estrangeiros e riscos na Ásia Central
A ONU também destacou um influxo de combatentes estrangeiros, incluindo retornados da Síria. Sua presença, afirmou, "aumentou significativamente o risco de ataques terroristas transfronteiriços", particularmente contra o Tajiquistão, o Uzbequistão e o Turcomenistão.
O Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, também conhecido como Partido Islâmico do Turquestão, foi citado como especialmente ativo. O grupo emitiu uma nova carta em março de 2025, defendendo o "retorno a Xinjiang para a jihad". Alguns de seus combatentes, juntamente com membros do Jamaat Ansarullah do Tajiquistão, do Movimento Islâmico do Uzbequistão e do Katiba Imam al-Bukhari, "foram usados pelas autoridades de fato em unidades policiais e militares para garantir a segurança interna, em particular no norte do Afeganistão", afirma o relatório.
Os monitores também alertaram que os militantes estavam usando familiares, especialmente mulheres, para cruzar fronteiras e manter redes de comunicação com afiliados externos.
Panorama militante mais amplo
O relatório listou uma rede de grupos extremistas ativos no Afeganistão, incluindo o Movimento Islâmico do Uzbequistão, com presença no norte; o Partido Islâmico do Turquestão, que administra locais de treinamento; o Jamaat Ansarullah do Tajiquistão, envolvido em recrutamento e exercícios; e grupos jihadistas menores da Ásia Central e Meridional.
Juntos, esses grupos se beneficiam da permissividade do Talibã e da falta de cumprimento dos compromissos internacionais de contraterrorismo, afirma o relatório.
A equipe de monitoramento concluiu que o Talibã "não tomou medidas suficientes para impedir que o Afeganistão se tornasse novamente uma plataforma de lançamento para o terrorismo internacional". Em vez disso, afirmou, as políticas do regime "representam uma ameaça direta à paz e à segurança internacionais".
O Conselho de Segurança ecoou essas preocupações, alertando que redes extremistas arraigadas no Afeganistão poderiam desestabilizar a região e representar ameaças diretas à Europa e à América do Norte.
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